Resenha - As Moradas do Castelo Interior (Santa Teresa d`Ávila)
- Adriano Macêdo
- 15 de fev. de 2016
- 2 min de leitura

Humildade.
Essa palavra anda meio fora de moda num mundo voltado para o espetáculo, cheio de celebridades que têm quinze minutos de fama e que se sujeita a uma mídia de entretenimento que aliena as pessoas ao ponto de perderem o contato com a sua própria alma, deixando de ouvir seu espírito e a voz da força superior que está em Deus.
Isso dura até que você ingressa num castelo que está retratado em um livro de quase quinhentos anos.
Em 1577 Santa Teresa d`Ávila (Teresa de Cepeda Y Ahumada) finalizou seu “As Moradas do Castelo Interior”, obra endereçada às irmãs carmelitas descalças, ordem católica da qual participava, tendo fundado inúmeros conventos.
Esse livro foi lançado no Brasil pela É Realizações com tradução de Antonio Fernando Borges, com uma excelente revisão editorial.
Santa Teresa, profunda conhecedora de suas virtudes, mas principalmente de seus defeitos, dotada de uma humildade simplesmente encantadora, foge do elemento dinâmico de apontar o caminho que leva a Deus, preferindo estabelecer uma surpreendente comparação estática, onde a aproximação entre o pecador e o Altíssimo se dá como moradas nos diversos níveis de um castelo. Esse castelo é a sua alma e o seu corpo.
Partindo dos níveis mais exteriores se irá ingressar em cada uma das moradas daquele castelo (sete ao todo), ficando claro desde o início o quanto é difícil permanecer nas moradas iniciais diante das muitas tentações a que a alma está sujeita. E olha que falamos de tentações do século XVI, quando nem se sonhava nas tentações do mundo moderno...
Santa Teresa nos fornece um mapa minucioso dessas moradas e o que ocorre em cada uma delas.
O que fazer para nelas permanecer e os perigos que as rondam. Também diz como se dá a passagem de uma morada para outra, tudo numa linguagem simples, direta, como uma mãe zelosa falando para as filhas.
Não são poucos os momentos no livro em que ela, um mística, usando daquela humildade que a caracteriza e santifica, reconhece sua instrução deficiente e que mesmo seus sentidos podem se enganar em certos momentos, recomendando às irmãs então que nesses casos recorram elas ao confessor, aos letrados e aos superiores dotados de maior razão ou inteligência, que irão ajudar a discernir as reais experiências da alma.
A arquitetura da alma, traçada num paralelo com os castelos medievais, torna a leitura desse livro um vislumbre para o homem moderno da contemplação e da espiritualidade que marcou a Igreja Católica durante séculos.
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